Mentira!

Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.

Amnesty International


17 de agosto de 2007

Democratas ou ditadores?

Por regra, o déspota é tão ambicioso de poder como inseguro e medroso. Sofre de complexos síndromas existenciais, tem pavor de fantasmas e, quando algum destes toma forma física, ele esmaga-o sem dó nem piedade. Vê ameaças por todos os lados e sente-se cercado por inimigos. Há exemplos concretos em toda a parte, em grau mais ou menos elevado. Se conseguem alcançar o degrau mais alto da estrutura do poder no seu país, consideram este como sendo sua propriedade privada e procuram controlar tudo e todos, abafando s vozes que não lhes teçam elogios. Pretendem que a Nação funcione como um grupo coral bem ensaiado a cantar em uníssono, bem afinado, loas ao querido chefe, sendo qualquer fífia punida exemplar e severamente.

Muitos políticos perdem a noção da ética, deixam de ter capacidade de resistir à tentação do Poder que corrompe, que domina e submete, pior do que a pior droga. Será que se consideram semi-deuses, donos do seu país? Será que são ofuscados pelas loas dos lambe-botas que os cercam para colher vantagens, e perdem a noção da sua função de serviço público?

Fala-se de democracia, mas todos têm tendências autoritárias que por vezes chegam ao extremo das atitudes ditatoriais. Como se compreende que a democracia não passe de uma palavra para muitos governantes?

Há exemplos vivos, que dispensam o recurso aos casos da história recente.

Na Coreia do Norte, o grande líder põe e dispõe dos recursos do país, apoiado por uma corte de servidores submissos incondicionais. Tendo transformado uma república numa espécie de monarquia, é aplaudido e ovacionado por todos aqueles que, amedrontados e amantes da sobrevivência, querem evitar represálias.
A atracção pela monarquia não é vista apenas na Coreia do Norte, pois na Síria, a descendência de Hafiz al-Hassad (que esteve no poder até à morte) foi meticulosamente preparada, o mesmo tendo sido feito no Iraque (mas interrompida pelo derrube de Saddan Hussein) e está em preparação na Líbia e no Egipto.
No Zimbabwe, Robert Mugabe pretende morrer no trono, esmagando qualquer veleidade de oposição ou simples manifestação de desagrado.
No Sri Lanka a sr.ª Chandrika Bandaranaike não abandona uma milésima do poder nem por milagre, reprimindo com mão de ferro as aspirações dos Tigres Tamil, apesar das tentativas de negociação patrocinadas por um país da Europa do Norte. Para melhor controlar o Estado e evitar oposições indesejadas, formou governo com familiares, tendo a mãe sido primeira-ministra até à véspera da morte.
No Myanmar (antiga Birmânia), a ditadura militar considera-se proprietária do país, ao ponto de, após as eleições de Maio de 1990, não deixar formar governo o partido vencedor de Daw Aung San Suu Kyi, filha do líder da independência Aung Sang, anteriormente falecido. A senhora Suu Kyi, não pôde formar governo e passou a viver em prisão domiciliária, incomunicável, nem sequer se tendo ausentado para receber o prémio Nobel da Paz de 1990 que lhe fora concedido.
Em Cuba, Fidel só abandonou o poder por motivo de doença que o colocou à porta da morte e, mesmo assim, entregou-o ao irmão como se fosse propriedade sua ou de sua família e não do país.
Em Angola, ao fim de 30 anos, Eduardo dos Santos, porque se sente perto da morte devido a mal na próstata, parece decidido a fazer eleições no próximo ano, mas já antes fizera promessa idêntica que não cumprira.

E as ditaduras nem sempre surgem na sequência de revoluções ou de golpes palacianos, sendo frequente aparecerem progressivamente, a partir de situações de aparente democracia normal, como no caso de Hitler e, agora, na Venezuela. Há pequenos sintomas da ambição desmedida pelo abuso do poder que podem escorregar para o centralismo, exagerado, com autoritarismo que tudo controla e reprime, por vezes, com base em denúncias que conduzem à partidarização de cargos públicos a qualquer nível. Não é por acaso que seja considerado necessário alertar as populações para os verdadeiros problemas que as afligem, despertá-las para perderem o medo de, como diz Mário Soares, manifestar a sua indignação e refilar no momento e local certo. Como disse Cavaco Silva, é preciso não se resignar ao sofrimento.

Quando tais sintomas começam a ser evidentes, há que criar nesses países, uma onda de fundo, agir sem pressa, mas sem esmorecer, sem desistir, sem demoras, com perseverança. Agindo assim, serenamente, talvez consigam criar melhores condições para os seus filhos e netos e mentalizar os mais jovens de que o mundo deles está agora a ser construído e eles têm de colaborar, porque serão os beneficiados. Com populações bem esclarecidas e com capacidade de analisar fria e calmamente a situação em que vivem, o mundo poderá ser mais pacífico e desenvolvido e as pessoas mais felizes em liberdade democrática.

4 mentiras:

Mentiroso disse...

Excelente apresentação dum caso comum.

As ditaduras surgem «a partir de situações de aparente democracia normal», precisamente porque essa democracia não passa de aparente, tal como em Portugal sempre foi. Não tem sempre existido abuso do poder» ou não tem estado essa possibilidade sempre latente? Não tem existido uma sempre mais ou menos «partidarização de cargos públicos a qualquer nível» – o cúmulo da corrupção e do roubo de empregos à população para os ceder à parasitagem política – recentemente coroada por legislação que chama traidores e cobarde em altos gritos aos que aprovaram, por terem consumado a corrupção, legalizando-a ilegitimamente?

Como esperar que alguém matute na colaboração cívica indispensável quando o «mundo deles está agora a ser construído e eles têm de colaborar», se o que impera é a lei da selva, cada um para si, os outros lá se arranjarão por eles mesmos. Se ainda ninguém compreendeu o que fez progredir os países avançados europeus! Não procederiam em concordância se o tivessem compreendido? Dizer que se está de acordo não prova nada, fazê-lo é que sim.

Note-se que há já umas décadas que a frase final tem um enorme número de seguidores. O movimento da década de 1960 estabeleceu-o. Em todo o mundo todos os povos querem a paz. A ganância dos políticos é que não tem permitido a sua aplicação generalizada.

A. João Soares disse...

Caro Amigo,
As suas palavras caem como a sopa no mel. A parte final do post recebeu uns retoques para não ficar tão acintosa. É o meu estilo, obrigando o leitor a ler devagar, com atenção, para ler nas entrelinhas. Não dá eficiência na difusão de uma ideia-choque, mas dá-me um certo gozo essa forma de jogar com as palavras. O meu amigo, como leitor atento e perspicaz que é concluiu que toda a mensagem do post está nessas linhas finais. Para não ficar muito oculta fiz referência a duas tiradas de PR.
Felizmente para a passagem da mensagem, surgiu de imediato este seu comentário que deu o complemento necessário. Veio descodificar aquilo que não estava muito às claras.
Parece que dentro de cada político há um déspota, egoísta e ambicioso, sem um verdadeiro respeito pelo outro. A falta de ética leva ao esquecimento da verdadeira função do político, ignoram que a Política é uma ciência e uma arte muito nobre que deve ter por objectivo permanente a procura da felicidade das pessoas. Mas eles procuram apenas a felicidade deles próprios e os da máfia que os cerca. Por isso, o descambar na ditadura só poderia ser travado com uma real divisão de poderes, em que o executivo fosse eficientemente controlado. Mas no nosso caso, o legislativo, que devia controlar, acaba por ser controlado pelo mesmo partido chefiado pelo PM.
Um abraço

Mentiroso disse...

Exactamente.

É precisamente por isso que numa democracia um governo é controlado pelo povo, que é o soberano.

Se assim não for, a uma fantochada assim pode-se chamar tudo menos democracia.

A. João Soares disse...

Obrigado por mais este esclarecimento. Realmente, o tema merece ser aprofundado. O livro «Siter Revolutions, French Lightning, Amarican Light» de Susan Dunn, compara as revoluções francesa e americana quanto à preparação, realização e resultados, bem como a interacção em muitos aspectos. Sublinha a preocupação dos pais dos EUA em evitar o abuso do poder do Presidente, o que procuraram através do Congresso com o seu poder de veto. Mas tiveram consciência de admitir que quando um partido tivesse o governo e o controlo da maioria do Congresso, a solução não seria totalmente perfeita. É esse o inconveniente das maiorias absolutas a que me referi nos seguintes três textos que aqui coloquei recentemente:
Oposições e governos em democracia,
Inconvenientes da maioria absoluta, aditamento,
Inconvenientes da maioria absoluta.

Abraço amigo com votos de bom fim de semana