O que valem as palavras
Por Manuel António Pina, jornalista do JN
Vários eurodeputados receberam Sócrates com vaias e apupos durante a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais no Parlamento Europeu. Sócrates teve que interromper várias vezes o discurso e, por um momento, o hemiciclo de Estrasburgo mais parecia uma final Porto-Benfica.
Pelos vistos, o "hooliganismo" pegou no PE, o que não surpreenderá sabendo-se que grande parte dos arruaceiros, que exigiam que o Tratado de Lisboa fosse referendado, pertence à selecta claque "eurocéptica" britânica (talvez seja altura de, como nos estádios, os plenários do PE serem vigiados por câmaras e os eurodeputados obrigados a soprar no balão).
No final, Sócrates desvalorizou o incidente, classificando-o de "folclore democrático".
Convenhamos, no entanto, que prometer uma coisa e fazer outra não deixa igualmente de caber na lamentável e comum categoria do "folclore democrático". "O PS - diz o Programa de Governo com que Sócrates se apresentou aos portugueses e com base no qual foi eleito - entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deve ser precedido de referendo popular".
Já não falta muito para descobrirmos (mais uma vez) o que valem as palavras em política.
NOTA: Considero muito interessante este texto, embora já tivesse expressado a minha opinião contrária ao referendo como a seguir transcrevo:
O referendo ainda poderá ser decidido. Mas não tem significado, porque...
Para exprimir a vontade real do povo, não devia haver campanha de mentalização pelos partidos e cada um votaria segundo os seus sentimentos e conhecimentos sobre a matéria. Com campanhas dos partidos, a maior parte das pessoas vota em quem o seu partido aconselha.
A maior anedota em caso de referendos, foi com o da IVG. Os políticos disseram que, por ser um problema de grande sensibilidade, não o decidiam na AR e deixavam a decisão ao povo. Parecia uma posição séria, honesta, democrática. Mas não passou de um logro, porque esses mesmos partidos, fizeram uma campanha que foi uma terrível pressão nas consciências do povo para votar em quem eles (políticos) queriam. Houve muitas abstenções porque as pessoas mais desconfiadas em relação aos políticos não quiseram fazer o jogo de uns ou de outros. Essa falta de confiança nos políticos tem sido notada em muitas eleições. Os políticos deixaram de representar a vontade dos eleitores e estes respondem com a abstenção ou votando em independentes, que embora sejam do mesmo naipe, não estão a jogar pelo partido. É uma atitude do povo, que não é tão burro como os políticos pensam.
Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.
14 de dezembro de 2007
Referendo ao tratado de Lisboa?
Autor: A. João Soares às 10:14
Tópicos: Coerência, promessas, racionalidade, utilidade
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