É costume ouvir-se que os políticos são todos iguais mas, na realidade, se são muito parecidos na forma exagerada e tendenciosa como se expressam, temos de concordar que não são todos iguais, pois alguns ‘são mais iguais’ do que outros!
O texto que a seguir se transcreve, do jornal gratuito Destak, mostra um aspecto tão notável que é difícil encontrar outro igual. A afirmação é difícil de demonstrar ou de minimamente explicar. Faz recordar aquilo que o professor Marcelo R Sousa disse a propósito do ministro da Agricultura que «é o maior… do mundo». A isso, o ministro reagiu com serenidade e dignidade, pois tais exageros só são lesivos da imagem dos seus autores.
EDITORIAL
Sócrates a «todos os títulos notável»
Isabel Stilwell
Estive em Angola em 2001, em reportagem, a convite da Caritas Internacional. Visitei Luanda, e várias outras regiões, onde a pobreza e a doença provavam até onde consegue chegar a capacidade de resistência do ser humano. Nessa altura, as notícias dos jornais internacionais denunciavam os milhões de dólares que faltavam nas contas do Estado angolano, alegadamente provenientes da venda de petróleo, e que nunca entrarão no país. Mesmo quem viu apenas o que eu vi, sem que sofresse na pele o horror que os angolanos sofreram, e continuam a sofrer, não pode deixar de ficar chocado com as afirmações que, ontem, José Sócrates proferiu na sua visita a Angola.
Estimular os países à mudança é uma coisa, elogiá-los com frases como «O trabalho que o governo angolano tem feito é a todos os títulos notável», a «todos os títulos», note-se, choca. Como choca que o nosso primeiro-ministro, em representação de Portugal, diga que aquele é «um dos países mais falados e mais reputados». Mesmo, ou sobretudo, se alegar que as relações comerciais entre um dos países mais ricos do mundo e este canto à beira-mar plantado, o justificam. A “todos os títulos” prefiro números e relatórios de fontes credíveis, a comentários pessoais.
Ficam aqui alguns. Que Sócrates conhece, e não pode esquecer.
• PIB per capita: 6 500 dólares (o de Portugal, é de 21 800)
• Índice de Desenvolvimento Humano – 162 (em177 países), um lugar acima do Burkina Faso.
• Expectativa de vida: 41,7 anos
• Morte de crianças com menos de 5 anos, 245 por mil.
• Iliteracia adulta, 67,4%
• Carta aberta à EU Sobre a Situação dos Defensores dos Direitos Humanos em Angola, que relata como têm sido perseguidos e intimidados, datada de 31 de Julho de 2007, e dirigida a Luís Amado, o nosso actual ministro dos
Negócios Estrangeiros, na altura presidente do Conselho da UE.
• Relatório do grupo destinado a analisar as Detenções Arbitrárias da Amnistia Internacional, elaborado em Setembro, indica que «os prisioneiros estão detidos em condições agrestes e alarmantes».
Quanto à liberdade de imprensa, segundo a AI, sofre graves restrições. Por exemplo, este texto nunca lá seria publicado.
Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.
18 de julho de 2008
A todos os títulos notável
Autor: A. João Soares às 18:24
Tópicos: Credibilidade, exageros, subserviência
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