José Niza, médico e músico, que foi director de programas e administrador da RTP, fala sobre o caso de Manuela Moura Guedes, do seu afastamento como apresentadora do Jornal Nacional de sexta-feira da TVI e de factos precedentes relacionados. Publicado no jornal O Ribatejo por Bruno Oliveira.
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TVI - A Minha Leitura (José Niza)
Fui director de programas da RTP e depois seu administrador. E garanto-vos que, se alguma vez algum apresentador ou jornalista desse uma entrevista a chamar-me "estúpido", a primeira coisa que aconteceria seria o cancelamento imediato do seu programa, independentemente de haver ou não eleições em curso.
Por isso me parece incompreensível que, embora rios de tinta já se tenham escrito sobre o cancelamento do jornal nacional que Manuela Moura Guedes (MMG) apresentava na TVI, todos os analistas e comentadores tenham ignorado a explosiva e provocatória entrevista que MMG deu ao Diário de Notícias dias antes de a administração da TVI lhe ter acabado com o programa.
Em meu entender essa entrevista, realizada com antecedência para ser publicada no dia do regresso de MMG com o seu jornal nacional, foi a gota de água que precipitou a decisão da TVI. É que, o seu conteúdo, de tão explosivo e provocatório que era, começou a ser divulgado dias antes. E se chegou ao meu conhecimento, mais cedo terá chegado à administração da TVI.
Nessa entrevista MMG chama "estúpidos" aos seus superiores. Aliás, as palavras "estúpidos" e "estupidez" aparecem várias vezes sempre que MMG se refere à administração.
É um documento que merece ser analisado, não somente do ângulo jornalístico, mas sobretudo do ponto de vista comportamental. É uma entrevista de uma pessoa claramente perturbada, convicta de que é a maior ("Eu sou a Manuela Moura Guedes"!) e que se sente perseguida por toda a gente. (Em psiquiatria esse tipo de fenómenos são conhecidos por "ideias delirantes", de grandeza ou de perseguição).
MMG diz-se perseguida pela administração da TVI; afirma que os accionistas da PRISA são "ignorantes"; considera-se "um alvo a abater"; acusa José Alberto de Carvalho, José Rodrigues dos Santos e Judite de Sousa de fazerem "fretes ao governo" e de serem "cobardes"; acusa o Sindicato dos Jornalistas de pessoas que "nunca fizeram a ponta de um corno na vida"; diz que o programa da RTP 2, Clube de Jornalistas, é uma "porcaria"; provoca a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social); arrasa Miguel Sousa Tavares e Pacheco Pereira, etc.
E quando o entrevistador lhe pergunta se um pivô de telejornal não deve ser "imparcial", "equidistante", "ponderado", ela responde: "Então metam lá uma boneca insuflável"!
Como é que a uma pessoa que assim "pensa" e assim se comporta, pode ser dado tempo de antena em qualquer televisão minimamente responsável?
Ao contrário do que alguns pretendem fazer crer - e como sublinhou Mário Soares - esta questão não tem nada a ver com liberdade de imprensa ou com a falta dela. Trata-se, simplesmente, de um acto e de uma imperativa decisão administrativa, e de bom senso democrático.
Como é que alguém, ou algum programa, a coberto da liberdade de imprensa, pode impunemente acusar, sem provas, pessoas inocentes? É que a liberdade de imprensa não é um valor absoluto, tem os seus limites, implica também responsabilidades. E quando se pisa esse risco, está tudo caldeirado. Há, no entanto, uma coisa que falta: uma explicação totalmente clara e convincente por parte da administração da TVI, que ainda não foi dada.
Vale também a pena considerar os posicionamentos político-partidários de MMG e do seu marido.
J. E. Moniz tem, desde Mário Soares, um ódio visceral ao PS. Sei do que falo. MMG foi deputada do CDS na AR.Até aqui, nada de especialmente especial.
O que já não está bem - e é criminoso - é que ambos se sirvam de um telejornal para impunemente acusarem pessoas inocentes, sem quaisquer provas, instilando insinuações e induzindo suspeições.
Ainda mais reles é o miserável aproveitamento partidário que, a começar no PSD e em M. F. Leite, e a acabar em Louçã e no BE, está a ser feito. Estes líderes políticos, tal como Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, sabem muito bem, que nem Sócrates nem o governo tiveram qualquer influência no caso TVI. Eles sabem isto. Mas Salazar dizia: "O que parece, é"!
E eles aprenderam.
- 1984. Eu era, então, administrador da RTP. Um dia a minha secretária disse-me que uma das apresentadoras tinha urgência em falar comigo: - "Venho pedir-lhe se me deixa ir para a informação, quero ser jornalista"! Perguntei-lhe se tinha algum curso de jornalismo. Não tinha. Perguntei-lhe se, ao menos, tinha alguma experiência jornalística, num jornal, numa rádio... Não tinha. "O que eu quero é ser jornalista"! Percebi que estava perante uma pessoa tão determinada quanto ignorante. E disse-lhe: "Vá falar com o director de informação; se ele a aceitar, eu passo-lhe a guia de marcha e deixo-a ir". A magricelas conseguiu. Dias depois, na primeira entrevista que fez - no caso, ao presidente do Sporting, João Rocha - a peixeirada foi tão grande que ficou de castigo e sem microfone uma data de tempo.
P.S.
A jovem apresentadora chamava-se Manuela Moura Guedes.
E se eu soubesse o que sei hoje...
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Porque nos escondem os jornaleiros estas opiniões? Esses trambolhos insultuosos, pretensos profissionais, tão rascas, falsos e incompetentes como aquela que defendem, encobrem tudo o que não lhes convém a eles ou a outros interesses obscuros e querem ser fazedores de opiniões. Que confiança nos merece esta cambada reles? É este um caso que sob o ponto informativo muito se assemelha ao da corrupção e roubo na Comissão e no Parlamento Europeus, como recentemente revelado. Felizmente que ainda restam alguns de entre eles que são excepções honestas. Quanto às informações internacionais, o melhor é mesmo procurá-las no estrangeiro.
Há muito quem diga que a Manuela Moura Guedes é uma boa jornalista. Bom, se assim é e pelo seu percurso que o Dr. José Niza nos conta fica provado que para o ser não é preciso seguir qualquer curso nem aprender seja o que for.
Não obstante a sua saida do jornal tenha sido adequada às circunstâncias e ao modo cmo ele era conduzido, de acordo com o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, note-se bem que não foi uma decisão tomada no tempo certo. Donde, mais uma vez se deduz a incapacidade generalizada de responsáveis, direcções, gestores, decisores e afins.
Sob o presente tópico, veja-se ainda este poste, também muito elucidativo por conter menções a publicações oficiais escamoteadas pelos mesmos energúmenos.
Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.
17 de setembro de 2009
José Niza Sobre o Caso MMG – TVI
Autor: Mentiroso às 12:48
Tópicos: Abuso, Credibilidade, Decisão, Desinformação, Desonestidade, Hipocrisia, Indignidade, Irresponsabilidade
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12 mentiras:
Porreiro pá.
O josé niza e o rangel podem falar a mmg não. Não gosto dela nem da hustler, no entanto são formas de expressão e da liberdade que devem coexistir com outras.
È uma pena este país com estas elites porque o povo é inequivocamente bom
Caro António,
Não se pode deixar de concordar com essa legítima opinião, mas há outras coisas. A condenação pelos seus colegas do Conselho de Deontologia (noutro post recente) não pode ser desprezada e deve mesmo atribuir-se-lhe o seu devido valor. Depois, os direitos individuais são excessivamente mal compreendidos por um povo que não tem a mínima cultura democrática, regendo-se por palavreado oco, atropelando os verdadeiros princípios democráticos, onde o básico, no que respeita à liberdade de expressão é que essa liberdade não deve interferir com a dos outros. Afinal, a liberdade resume-se a uma obrigação e acaba onde pode restringir a do próximo. Sem isto não pode existir liberdade nem democracia. Aquilo por que o Conselho de Deontologia a condenou não foi por liberdade nem com ela pode coexistir. Basta ler o texto do seu comunicado para o compreender.
Quanto ao José Niza, actualmente com mais de 71 anos, deve ter lidado com ela desde ainda muito jovem, conhecendo-a de ginjeira. Isto, por si só, não implica verdade, mas assegura conhecimento. Todavia, analisando o que disse, não deve andar longe da realidade.
Caro Mentiroso:
Escolheu mal o seu nick. Você é um tipo cheio de pinta e logo não o pode ser.
Gosto dos termos e da forma como aborda as questões. Na maior parte dos comentários que vejo eles normalmente roçam o insulto, (politico e pessoal). Aqui as coisas são mais civilizadas e é asim que deve ser. No entanto eu não defendo a MMG, porque de facto aquilo não era uma coisa digna de se ver e era jornalismo opinativo. Agora acabarem com o programa em vespera de eleições não lembra ao diabo e depois existem demasiadas conexões, (zapatero cebrian, socrates, virgens púdicas). Agora o que acho é que nunca se deve julgar, (e então o conselho de deontologia, que não tem as mãos nada limpas), com base em proto erros de juventude. Se calhar se se olhar para para a juventude de todos os que nos governam existem demasiados erros, ambições, traições, oportunismos e outros ismos inerentes à juventude.
Gosto de gente educada e com ideias
ABatata
Pergunto-me se alguém seguiu a pista de Niza e leu a tal entrevista em que os insultos fizeram parte duma festança de narcisos todo-poderosos, donos do 1º poder...
Caro Antóno,
Talvez que os elogios sinceros não sejam tão merecidos, mas o que interessa é bater sempre onde estiver mal. Não sempre nos mesmos só por arvorarem cores diferentes, ou teremos tanta credibilidade como eles ou como essa jornaleirada ignóbil.
Caro chilreio,
É de crer que alguns terão seguido a pista e lido. Só que, tal como fizeram com o comunicado do Conselho Deontológico do Sindicato de Jornalistas, encobriram. Trata-se dum facto que não nos deixa qualquer dúvida sobre a baixeza moral e profissional desta casta de verdadeiros sacanas e cobardes que são os jornaleiros portugueses. Moeda falsa cuja única utilidade e finalidade é a de enganar, mentir e papaguear o que lhes convém a eles. Raça ignóbil a desprezar.
Caro Mentiroso,
Corroboro e partilho da sua acutilante análise. Na fogueira que vão alimentando com reputações, honorabilidades, integridades, etc. no trucidar constante de massa humana, lá vão subindo e escalando até atingirem o estatuto de intocáveis.
É, a meu ver, resultado do imperativo que cada órgão de "informação" tem de cumprir: VENDER HISTÓRIAS!
Caro Anónimo,
É isso que acontece. Omal está em poucos o compreenderem e muitos o admitirem.
Caro Mentiroso (?)
Eu também conheço a mmg de ginjeira, pois ela tentou entrar no DN quando eu ainda era chefe-adjunto da Redacção do matutino. Depois, fui chefe mesmo. Desgraças, vidas.
O modo como se me apresentou e as exigências que fez (note-se que andava à procura de emprego, recem saída da Faculdade) demonstraram bem a sua arrogância, a sua fraquíssima educação e a convicção da sua omnisciência e, portanto e implicitamente - não precisava do estádio... que solicitava... Já sabia tudo... Claro que não entrou.
Pela vida fora, pensei que, apesar de tudo, lhe poderia ter dado uma oportunidade; mas fui-me dando conta de que a minha apreciação, ainda que sumária e apriorística, fora a mais indicada. O DN nunca constaria do C V de tal senhora, soit disand.
O José Niza, meu Amigo e camarada socialista, tem razão naquilo que escreveu. O que, para mim, pecou apenas por defeito. Muito mais poderia ter escrito...
Outro assunto: muito obrigado pelo teu cumentário (com o) no Sorumbático. Temos posições e opções políticas bem diferentes, mas é também isso que é incontornável em Liberdade e em Democracia. Em que felizmente, vivemos.
Gosto deste teu blogue, vou passar a frequenta-lo sempre que possível e a deixar cumentários (com o). Se calhar, não seria má ideia que passasses pela Minha Travessa, muito diferente - mas também honesta. Gostava que o fizesses.
Abs
Caro HAF,
Não pode deixar de se agradecer a passagem neste blog de alguém que é uma das mais remarcáveis excepções às justas incriminações aqui pespegadas nos pretensos jornalistas. Não era assim antes e gente da nossa idade pode certamente recordar-se da progressiva degradação ao longo do tempo. Aviltaram a profissão fazendo dela um escape para ignorantes, incapazes, aldrabões, fazedores de notícias e encobridores de criminosos políticos. Não só mantêm a população na ignorância como a desinformam com dados falsos.
O teu comentário é mais uma pedra a juntar à pirâmide que se deveria erguer sobre o caso da MMG. Pedras que os fazedores de notícias tentam remover. Também não é de admirar que defendam aqueles com quem se identifiquem. Normal e humano, não deixando, todavia, de os classificar. Não sendo jornalista nem para isso tendo pretensões, creio que, no interesse do todos, a verdade deve ser dada a conhecer.
Efectivamente, encontram-se posts de muito interesse no A Minha Travessa. A explosão do número de blogs tem tornado cada dia mais difícil encontrar os de interesse. Cai-se neles por azar.
Mentiroso
Isso não creio que sejas. Benfeitor de malandros como eu - acho que sim. Já comprei uma toalha de banho para pôr ao pescoço, tanto me babei com o teu elogio. Aí sim, aí não dizes a verdade. Mas - faz-me bem ao ego...
Repito o pedido de voltares sempre que possas e queiras à Travessa e que deixes cumentários (com o). Muito obrigado.
Abs
Quando eu andava no liceu, conheci um professor de português que me aconselhou seguir jornalismo.
Era numa altura em que o Carlos Cruz, o “senhor televisão”, era a referência para muitos dos meus colegas do liceu.
A verdade é que acabei por seguir Direito.
Hoje posso constatar que há nexos de causalidade entre o jornalismo e o direito: ambos têm origem numa certa cultura cigana.
Não é por mero acaso que licenciados em direito e jornalismo invadiram o “mundo” da política. Afinal…. todos são coesos quando se trata de salvaguardar as suas origens ainda que estas sejam “disfarçadas” de modo a evitar os olhares do soberano Povo.
Agora sinto-me cercado no meio dos ciganos e, confesso, só é possível sobreviver – neste lamaçal - “negando” a maior conquista da democracia: a liberdade.
É uma questão se sobrevivência… só isso.
Paulo
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