Governar para as pessoas e não contra elas
Embora, por norma, não passe muito tempo em frente da televisão, no pretérito dia 9, vi de fugida no programa da manhã da RTP1, um artista de teatro que, depois de fazer um papel de homem viril e conquistador, ao conversar informalmente com o apresentador e ao recordar velhos companheiros, emocionou-se, ficando com os olhos visivelmente húmidos.
O operador de imagem, dando prova de respeito e de atenção, rodou a câmara para outro ângulo do palco.
Pouco depois, um conhecido cronista e comentador social, apresentou várias notícias curtas dos últimos dias, começando por tecer comentários muito humanos à sensibilidade e humanidade do actor atrás referido. E, ao citar a morte súbita de duas mulheres jovens (a irmã da princesa das Astúrias e uma artista americana), ambas recentemente divorciadas e a atravessar um período de instabilidade emocional referiu que elas estavam a precisar de apoio e carinho de familiares e amigos e não o receberam. As pessoas afadigadas com as suas próprias ambições e preocupações não têm disponibilidade para se aperceberem dos sinais de apelo dos amigos e não lhes lançam uma bóia oportuna e salvadora.
Não quero definir as minhas possíveis divergências pelas ideologias ou comportamentos destes dois homens, mas à semelhança de outros casos exemplares que tenho citado, não posso deixar calada a minha boa impressão destes sentimentos humanos, testemunhos evidentes de ainda haver gente a considerar que as pessoas não são coisas e merecem ser tratadas com humanidade.
Pelo contrário, para o Governo e principalmente para o ministro da Saúde, as pessoas não passam de eleitores, contribuintes, utentes, consumidores, etc. O doentes são tratados como números, bonecos ou pedaços de nada, o que repugna aos contribuintes mais atentos às realidades nacionais, mais sensíveis ao sofrimento alheio. É impressionante a forma como este ministro fala de milhões de euros poupados em medicamentos, no funcionamento do SNS, no fecho de centros de saúde, de maternidades, etc., sem nunca falar de pessoas doentes e carentes de assistência, por morarem longe do locais de atendimento ou por terem de lá estar às três da manhã arriscando o agravamento da sua doença, ou as filas de espera que levam os serviços hospitalares a convocar pessoas que entretanto morreram, ou de bebés que nasceram em ambulâncias sem condições adequadas por ter sido fechada a maternidade próxima de casa, do doente que morreu depois de andar horas em ambulância, como bola de pingue-pongue entre Lisboa e Peniche, ou de outras pessoas que morreram depois de horas em viagem para chegar de Odemira a Lisboa.
Um amigo em comentário a um blog sentiu na pele que uma consulta para neurocirurgia, estava com uma demora de 7 meses, a cirurgia seria para daí a 2 anos, e, para ver sua situação resolvida com a devida oportunidade, teve de recorrer ao meu bolso e à ajuda de amigos, concluindo, desta experiência e do conhecimento de outros casos que encontrou nas suas andanças à procura de tratamento, que o que consta nas estatísticas não merece credibilidade, por não traduzir as realidades com que se depara diariamente. Elas são fumaça, propaganda enganosa, para iludir o povo.
Quando a saúde nos falta somos considerados apenas mais um caso, um número, deixamos de ser vistos como seres humanos. Fica-se com a sensação de que os bons resultados são importantes para os serviços, mas somente por uma questão de prestígio, de êxito profissional muito necessário para somar uns bons pontos ao curriculum, o que não é negligenciável. Os valores da humanidade estão a cair em pedaços dando lugar ao egoísmo, à ganância, à burocracia.
Porém, temos de concordar que não há regra sem excepção, encontrando-se pessoas que lutam por um serviço de saúde digno, embora os resultados esbarrem sempre de encontro às restrições governantes, aos euros, ao...nada!! Merecem consideração os médicos e enfermeiros que actuam com toda a humanidade que o sistema lhes permite, muitos com tal destaque que são considerados autênticos santos.
Mas o que é criticável é o sistema existente: Os centros de atendimento cada vez mais distantes de casa, as filas de espera, as marcações que exigem estar muito cedo à porta das urgências, para ser atendido no próprio dia, as convocações em datas muito posteriores à morte, o custo de medicamentos, etc.
Agora está a falar-se em mais um imposto, para a saúde. Os políticos só pensam em dinheiro e tiram cada vez mais aos que já pouco têm. Mas vemos que os nossos impostos vão para o enriquecimento ilícito de políticos que rejeitaram as propostas de Cravinho e correram com ele para longe. Mas além do ilícito, os políticos a coberto de legislação à medida dos seus interesses, vão recheando a carteira de forma chocante quando se compara com as carências da maior parte dos portugueses. Desde os salários elevados até aos subsídios complementares (políticos a viver em Lisboa há vários anos e a declararem morada oficial no Norte ou na Madeira), a despesas simuladas (viagens fictícias de deputados), a pensões elevadas e acumuladas, regalias a juizes além das chorudas condições de jubilação, reintegração de deputados e outros políticos, como Jorge Vasconcelos, reinserção de diplomatas (Correio da Manhã de 10 de Fevereiro), etc., tudo isto cria um sentimento profundo de revolta no íntimo dos cidadãos mais desprotegidos, nomeadamente os mais idosos a morar no interior negligenciado.
Temos que tirar o chapéu perante todos os que falam das pessoas como seres humanos e não como coisas ou simples números. Haja humanidade e amor ao próximo. E haja também respeito pelos dinheiros públicos, evitando benefícios exagerados para uns e miséria desamparada para uma maioria.
Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.
10 de fevereiro de 2007
GOVERNAR PARA AS PESSOAS E NÃO CONTRA ELAS
Autor: A. João Soares às 18:39
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 mentiras:
É como disse ao MMargaride num post sobre os SCTP, estamos numa nova era das teorias económicas.
Um novo mercantilismo em favor do grande capital. O Neoliberalismo, que acentua, mais as desigualdades e onde o homem é escravizado. Voltamos à exploração do homem pelo homem, um verdadeiro retrocesso, no humanismo.
Um abraço.
PS: parabéns, por mais um blogue muito bom.
O assunto sobre a questão da saúde está absolutamente correcto, pelo que somos obrigados a concluir que quem quer que mate assim a população ou para tal contribua só pode ser etiquetado de ASSASSINO.
A té hoje nenhum governo tomou as medidas necessárias, básicas e elementares para que o sistema de saúde funcione normalmente como nos outros países. Nunca se copia o que está bem. ninguém fala nisso, nem políticos nem jornaleiros. A população é mantida na completa escuridão da ignorância e poucos são aqueles que têm conhecimento da realidade vivida em toda a Europa.
Se fizerem mais uma centena de hospitais e duas de centros de saúde, talvez seja um pouco melhor do que hoje, mas o problema está nos médicos não trabalharem todos para o serviço nacional de saúde. Ninguém pode ir ao médico que quer sem pagar da sua algibeira. Aberração inadmissível e única na Europa. Mais pormenorizadamente.
Amigos Víctor Simões e Mentiroso,
Agradeço as vossas palavras que reforçam este tema de elevada importância.
A minha interrogação reside na dúvida de haver ou não um objectivo secreto de reduzir a população, sem terem de recorrer abertamente à eutanásia. Embora se queixem da desertificação do interior, tudo está a ser feito para o despovoar totalmente. Mas enfrentem o problema das finanças com realismo: apliquem a eutanásia aos beneficiados com várias pensões de elevado valor. Cada um a menos são menos uns milhões de euros a sair do erário por ano.
Se o não fizerem desta forma, o Povo acabará por o fazer dentro de algum tempo. Não se espere que todos aguentem indefinidamente o garrote que os asfixia. A reacção pode demorar mas ocorrerá, e quanto mais tarde, mais violenta será.
Abraços
A. João Soares
Enviar um comentário