Francamente, não sei se devo regozijar-me ou lamentar o referendo sobre o aborto que teve lugar no passado fim de semana. É que, para mim, as questões envolvidas em todo este fenómeno são tão complexas que me deixam o raciocínio em suspenso, talvez ao contrário de tantos comentadores e políticos, tão seguros das suas verdades.
No entanto, para mim, uma ideia surje clara: este referendo significa uma clara derrota da democracia parlamentar. De acordo com o sistema democrático, tal como foi prefigurado pelos seus ancestrais fundadores, o povo delegaria em representantes eleitos pelo povo o poder único de legislar. Ora, no caso da legislação sobre o aborto esta seria a prática que deveríamos esperar: que a Assembleia da República legislasse sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez, seguindo os parâmetros aplicáveis a toda e qualquer lei que promulga.
Não foi o que aconteceu: a figura do referendo transfigura o cenário sobre quem está na base da escolha democrática. O povo ou o Parlamento? Pode objectar-se que o actual referendo não é vinculativo, mas acaba por vincular deputados e políticos a uma decisão extra-parlamentar. Sempre fui contra o princípio do referendo por, fundamentalmente, contrariar o nobre ideal de uma democracia representativa. Agora, vejo que décadas de mau funcionamento puseram em causa o valor, que considerava indiscutível, dessa mesma democracia parlamentar.
Neste blog e noutros sites do autor poderá prever o futuro do país tal como o presente foi previsto e publicado desde fins da década de 1980. Não é adivinhação, é o que nos outros países há muito se conhece e cá se negam em aceitar. Foi a incredulidade nacional suicidária que deu aos portugueses de hoje o renome de estúpidos e atrasados mentais que defendem os seus algozes sacrificando-se-lhes com as suas famílias. Aconteceu na Grécia, acontece cá e poderá acontecer em qualquer outro país.
Freedom of expression is a fundamental human right. It is one of the most precious of all rights. We should fight to protect it.
17 de fevereiro de 2007
Uma derrota da democracia parlamentar
Autor: Savonarola às 09:03
Tópicos: Aborto, Democ. parlamentar, Referendo
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1 mentiras:
Partilho das suas observações. E o mais caricato é os partidos, através dos seus grupos parlamentares, terem-se abstido de decidir sobe este assunto e terem-no entregado ao povo. Mas não deixaram o povo decidir livremente, e, com os seus mais altos líderes não deixaram de lhe ensinar como votar!! Se sabiam, então porque não decidiram na AR? E se não sabiam, então porque é que agora, sem uma maioria de votantes válida, interpretam o caso à sua maneira, ao contrário com a sua abstenção inicial na AR?
Realmente, não se pode chamar a isto Democracia. Mas as palavras já não valem aquilo que os dicionários dizem.
Um abraço
A. João Soares
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